A Reforma Tributária está avançando no Brasil e promete mudar profundamente a forma como as empresas pagam impostos. Embora o objetivo seja simplificar o sistema e tornar a cobrança mais justa, o setor de serviços — que representa uma grande fatia da economia — está em alerta.
Para muitos empreendedores, essas mudanças podem significar aumento da carga tributária, novos custos e necessidade de adaptação rápida.
Se a sua empresa atua com prestação de serviços, este artigo vai te ajudar a entender os impactos e, principalmente, como se preparar desde já para evitar surpresas.
O que muda com a Reforma Tributária
A principal mudança é a criação de dois novos tributos que substituirão os atuais PIS, Cofins, ICMS e ISS:
- IBS (Imposto sobre Bens e Serviços) — gerido por estados e municípios;
- CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços) — gerida pela União.
Essa estrutura é chamada de IVA dual e tem como objetivo simplificar o sistema e reduzir a cumulatividade dos impostos. Na prática, a cobrança passará a ser feita com base em uma alíquota única sobre o valor agregado nas operações.
O problema é que, para muitos prestadores de serviço, essa mudança significa pagar muito mais imposto do que hoje.
Aumento previsto na carga tributária
Atualmente, muitos negócios do setor de serviços pagam cerca de 8,65% de tributos federais e municipais combinados.
Com a nova sistemática, a alíquota prevista gira em torno de 26,5% a 29% — um salto significativo.
Isso afeta principalmente negócios que têm custos concentrados em mão de obra, como:
- empresas de tecnologia e suporte técnico,
- consultorias, escritórios contábeis e jurídicos,
- agências de marketing,
- prestadores de serviços terceirizados (como limpeza e facilities).
Como salários e encargos trabalhistas não geram crédito tributário, essas empresas não terão como compensar parte dos tributos pagos — e acabam ficando em desvantagem em relação a indústrias e comércios.
Novos desafios para empreendedores
Além do aumento de tributos, a Reforma traz desafios operacionais que exigirão atenção redobrada dos empreendedores:
- Complexidade nas regras de transição — as mudanças serão graduais, mas exigem acompanhamento constante;
- Dificuldade para repassar custos — em contratos longos ou com clientes mais sensíveis a preço, o repasse tributário pode gerar renegociações complicadas;
- Maior risco de autuações fiscais — por erros no aproveitamento de créditos ou interpretação das novas regras;
- Custos extras com compliance — sistemas, consultorias e controles internos precisarão ser aprimorados.
Em outras palavras: quem não se preparar com antecedência pode enfrentar impactos diretos no caixa e na lucratividade da empresa.
Exemplos práticos
Para entender melhor, veja dois cenários comuns:
- Consultoria – Uma empresa que hoje paga cerca de 8,65% sobre o faturamento poderá passar a pagar perto de 26,5%. Se a margem for apertada, isso pode consumir boa parte do lucro.
- Escritório de advocacia – Como a maior parte do custo está na folha de pagamento, o escritório terá pouca ou nenhuma possibilidade de gerar créditos tributários, ficando com quase toda a nova alíquota como custo adicional.
Já setores como educação e saúde poderão ter alíquotas reduzidas ou regimes diferenciados — mas isso ainda dependerá da regulamentação final.
Como os empreendedores podem se preparar
A boa notícia é que dá para se antecipar e reduzir riscos com planejamento. Veja algumas ações práticas que recomendamos:
1. Faça um diagnóstico tributário
Revise a estrutura da sua empresa e simule como a nova tributação afetará sua operação. Isso ajuda a entender onde estão os maiores impactos e permite agir com antecedência.
2. Revise contratos e precificação
Inclua cláusulas que permitam reajustes em função de mudanças tributárias e reavalie a formação do preço de venda para absorver possíveis aumentos de carga fiscal.
3. Invista em tecnologia e compliance
Sistemas atualizados e controles internos robustos serão essenciais para evitar erros e penalidades. Automatizar processos tributários também reduz retrabalho e custo operacional.
4. Acompanhe a regulamentação de perto
As regras finais ainda estão sendo definidas. Participar de entidades de classe e manter contato com sua contabilidade pode fazer a diferença na adaptação.
5. Crie reservas financeiras
Com possíveis aumentos de impostos e ajustes contratuais, ter um colchão financeiro dará mais segurança no período de transição.
A Reforma Tributária é uma mudança estrutural que afetará todos os setores da economia, mas o setor de serviços merece atenção especial.
Empreendedores que se prepararem desde já terão mais condições de adaptar seus preços, proteger sua margem e manter a saúde financeira da empresa.
Planejamento tributário e acompanhamento especializado não são mais opcionais — são estratégicos.
Conte com o apoio do seu contador para traçar o melhor caminho e evitar surpresas desagradáveis.